RADIOLOGISTA EM DESTAQUE – DR. EDUARDO CASTRO
Entrevistamos o Dr. Castro.
Radiologista mescla experiência, disposição para a reinvenção profissional e foco em qualidade de vida no mundo da telemedicina.
Com quatro décadas de experiência, o Dr. Eduardo Castro nos trouxe uma importante reflexão sobre os caminhos que a Medicina trilha no país. O médico gaúcho teve seu interesse pela Radiologia despertado ainda no curso de graduação e hoje vê com bons olhos a telemedicina, desde que aplicada como ferramenta acessória a políticas de saúde pública mais sérias.
Como a medicina surgiu em sua vida?
Ano que vem faço 40 anos de formado e 43 anos envolvido com radiologia.
Nesta altura do campeonato, contar “como a medicina surgiu na minha vida”, seria irrelevante. Talvez melhor seria perguntar como a medicina e a radiologia vão continuar a existir em minha vida.
Tenho perfeita consciência da finitude dos processos e certamente em alguma hora medicina e radiologia ficarão num passado gostoso. Espero que dando lugar a muita coisa deixada de lado por enquanto e que possam ser vividas mais plenamente. Quem sabe aquela volta na Lagoa Rodrigo de Freitas (Rio de Janeiro) às sete e meia da manhã de um luminoso verão ou um por do sol no final do dia?
Tudo aquilo que nos mata de inveja dos afortunados quando estamos indo para o trabalho ou voltando pra casa, vesgos de tanta imagem passada no decorrer do dia. E aí é que entra a telerradiologia para mim, a transição do agora para o depois. Afinal a ideia nunca foi uma parada súbita.
E a inclinação pela radiologia, como se deu?
Esta foi por meio de dois professores na Faculdade de Medicina da Universidade Católica de Pelotas no Rio Grande do Sul, que era um pouco a frente do seu tempo no que tange ao ensino da radiologia como suporte para a clínica médica. Já em 1972, tínhamos no terceiro ano do curso médico a cadeira de radiologia, com duas aulas semanais, uma teórica e outra prática, como preparação; assim como a propedêutica e farmaco, para a clínica médica do quarto ano. Eram anos e não semestres.
Pois bem, estes dois jovens professores souberam me encantar com a curiosidade investigativa de uma radiografia. A partir daí juntou-se uma amizade e já no quarto ano eu era monitor da cadeira e no quinto acompanhava regularmente o serviço realizando exames simples e contrastados (minhas primeiras seriografias e clisteres foram desta época) e dando palpites em laudos, com quase 98% de erro…
Alguns acertos começaram a vir muito mais tarde, mas os erros nunca deixaram de existir graças à Deus, o que me obriga e estimula a abrir o livro.
VAMOS CONVERSAR?
E sua reação ao conhecer a telerradiologia pela primeira vez?
[Foi como] Descobrir o barco que me levaria a atravessar o rio. Foi impactante conhecer uma maneira mais tranquila de continuar trabalhando e podendo ajudar pessoas, numa fase em que baixar pilha já não será o mais importante. Foi instantânea a minha reação de “tenho que botar um pé nisso pois, será mais um aspecto do futuro da radiologia e este particularmente me interessa”.
Além dessa disciplina, que outras você vê surgindo no ambiente da telemedicina? Que vantagens, desafios e barreiras elas encontram?
Olha, medicina é paciente e contato multidisciplinar. Sem isso a coisa não anda. Ou anda, mas mal. Portanto, a telemedicina, na área de radiologia, tem naturalmente grandes desafios, dependentes da estrutura disponibilizada, dos sistemas utilizados, possibilidades de chats e segunda opinião on-line etc.
Em contrapartida, você ter uma ferramenta que disponibilize laudos e pareceres de qualidade e em volume que atendam à demanda de lugares mais interiorizados é uma grande ajuda técnica, científica e principalmente humanitária.
Acho que a telemedicina será um grande avanço, uma grande companheira de todos os médicos, mas por si só não é única solução. Solução mesmo são maior número e mais bem formados médicos e um plano de carreira de Estado que leve estes profissionais a se disseminar no país, a se interiorizarem com boa condição de vida pessoal e profissional. Não esse triste arremedo que aí está hoje ocorrendo na medicina brasileira. Aí a telemedicina vai ser um complemento fundamental.
Sua vida mudou ao trabalhar de forma remota?
Atualmente e por razões estritamente pessoais, menos do que havia planejado. Mas será o instrumento da modificação, disto não tenho a menor dúvida e por isso estou “surfando nesta onda”.